segunda-feira, 31 de maio de 2010

Tribuna Socialista

O protesto social
e as candidaturas presidenciais

150 mil ou mais de 200 mil que se manifestam numa tarde de sol em Lisboa, não é um acontecimento qualquer. Manifestações já aconteceram em que os que se manifestavam, parecia que não sabiam ao que tinham ido. Na de Sábado, os entrevistados aleatóriamente pelas diversas televisões, sabiam o que queriam e mostravam convicção no seu protesto.

As "soluções" que os governos da União Europeia, com conselhos/pressões das agências de rating e do FMI, impõem, levam muita gente a concluir que insistir sempre no mesmo, não pode levar à resolução de uma crise que, embora mais grave que outras, é um sucedâneo de outras que já aconteceram.

Sócrates repete "soluções" semelhantes às aplicadas por Zapatero, por Berlusconni, por Papandreou, por Sarkozy, por Merkl ... primeiro-ministros de governos que já o eram antes desta crise. Governos que também já o eram quando injectaram milhões e milhões para estancar a bolha especulativa do sistema financeiro e que, não obstante isso, voltam agora a advogar cortes e mais cortes afectando prestações sociais e sistemas de protecção social.

Estas contradições começam a ser percebidas por muita gente. É um facto! Mas também é verdade que essa crescente percepção, não tem modificado politicamente um sistema que continua, nesta Europa, a priveligiar a alternância entre "soluções" politicas "genéticamente" muito semelhantes e com resultados muito parecidos.

Por cá, dizem as sondagens, que o PSD estará com um resultado próximo de uma "maioria absoluta", e, logo todos os chamados "fazedores de opinião" vieram a terreiro acrescentar que o somatório BE e PCP descia ligeiramente e a direita voltava a ter 52% no seu conjunto! No fim-de-semana da grande manifestação promovida pela CGTP, onde se falou da possibilidade de uma greve geral!...

Façam os desenhos que fizerem, inventem o que já está inventado, a realidade é que o movimento social das esquerdas só se tem baseado no protesto e muito pouco na capacidade de afirmação de uma nova alternativa.

Até as presidenciais, revelam a pouca capacidade de afirmação unitária das esquerdas. No fim-de-semana da grande manifestação da CGTP, a direcção do PS deu o seu apoio à candidatura de Manuel Alegre, mas nada se ouviu do candidato do PS, do BE e do PDA sobre os 200 mil que protestaram contra os diversos PECs.

Era suposto que Alegre fosse o candidato da "grande unidade das esquerdas". Por razões diferentes, as direcções do PS e do BE, falavam nisso. Mas o certo é que, perante a realidade, essa "grande unidade" não acontece e até divide os principais apoios partidários do candidato.

À esquerda não há transparência no debate, não há capacidade unitária de afirmação. Por isto, o protesto acaba por ser inconsequente!

Como é possível construir unidade quando perante questões que merecem protesto social não há consenso possível? A construção de uma maioria social ganhadora não é uma conta de somar!

Como não é possível construir projectos mobilizadores na base de abstracções de "apelo à cidadania", não se discutindo também nada de concreto. Fica, neste caso, uma "unidade" construída (!) com um populismo primário!

Manuel Alegre não acrescenta nada a Fernando Nobre, tal como Fernando Nobre não acrescenta nada a Manuel Alegre. Abstração e populismo até convivem muito bem!

Entre os 200 mil que se manifestaram no Sábado, haveria pessoas de todo o espectro partidário. A crise, nas suas consequências, não escolhe cores partidárias. Como haveria também apoiantes de todos os actuais e futuros candidatos presidenciais. Mas a unidade só durou enquanto durou a manifestação!

A crise precisa de uma solução política, nos planos europeu e nacional, que não repita fórmulas gastas nem alternâncias dos mesmos. Essa solução precisa de partir do movimento social que consegue unidades nos protestos, para uma nova relação entre todas as correntes e pessoas que se consideram de esquerda e que conseguem estar de acordo relativamente às causas da actual crise económica e financeira.

Enquanto isso não acontecer, ganharão as alternâncias dos mesmos e as "soluções" reutilizadas! À esquerda é urgente que o social e o político voltem a dar as mãos ...


http://militantesocialista.blogspot.com/

Foto: DR

Direito de Resposta

Carta ao director do Público sobre reportagens
da manifestação da CGTP

por Alan Stoleroff*

Fui solicitado pelo jornal Público para permitir um jornalista acompanhar-me durante a minha observação da manifestação da CGTP em Lisboa no dia 29 de Maio. Achei a proposta interessante - mas o resultado deixou-me desiludido e incomodado. O artigo falou mais de mim que da manifestação; o professor do ISCTE foi tratado como uma espécie de celebridade e, além de ter algumas citações erradas, o artigo diminuiu a substância de comentários que fiz sobre a significância política da manifestação.

Tratam-se de tribulações típicas da relação entre académicos e a comunicação social. Mas estas coisas acontecem demasiado frequentemente quando está em causa o sindicalismo português. Muitas vezes as nossas palavras são utilizadas pelos jornais para criar sensação em vez de informar. Os jornalistas têm que compreender que tudo que escreverem sobre o sindicalismo mexe com as vidas de quase um milhão de trabalhadores e as suas famílias e a situação do país. Isso implica muita responsabilidade.

Queria clarificar algumas observações:

A manifestação foi uma grande mobilização sindical e popular genuína de protesto contra o PEC e as medidas de austeridade - independentemente de terem sido 130.000 ou 300.000 participantes. Isto foi o teor dos meus comentários sobre o tipo e número de participantes. Acho que é absolutamente necessário que se dê voz ao descontentamento da população trabalhadora e acho que a CGTP cumpriu o seu papel sendo veículo desse protesto necessário. Várias vezes disse claramente ao jornalista que as palavras de ordem responsabilizando os bancos pela crise tinham exactidão "científica" e que uma política justa punha mais ónus sobre os bancos para "pagarem a crise".

É verdade que reagi aos comentários polémicos de Manuel Carvalho da Silva sobre a UGT e a greve geral mas também reagi aos comentários de João Proença da UGT. Acho que uma greve geral - se fizer sentido neste contexto em Portugal - não deveria ser convocada por apenas uma das centrais sindicais, mesmo que essa seja a maior, e que às vezes é melhor manter o silêncio sobre os conflitos entre as centrais, pelo menos, até haver uma verdadeira tentativa confidencial de diálogo procurando os pontos de convergência. Para fazer sentido uma greve também terá que ter prospectivas de sucesso e terá que ter uma estratégia articulando objectivos para uma negociação que vise ganhar algo efectivamente (o que significa uma estratégia flexível que admite concessões em troca de contrapartidas). Não se deve gastar os recursos da capacidade mobilizadora grevista dos sindicatos apenas para um protesto. Para isso há manifestações como a de ontem. Porventura, acho que o verdadeiro diálogo com o movimento sindical - no seu conjunto - é indispensável para tirar o país destas crises de que sofremos. Contra os trabalhadores e os seus representantes sindicais de ambas as centrais não há solução para estas crises e, de facto, desde a Reforma da Administração Pública até as medidas mais recentes, a abordagem dos partidos no poder tem pecado por essa lacuna fatal e intencional. Também acho que é fundamental que o movimento sindical tenha uma perspectiva estratégica que lide com a complexidade da situação política actual, ou seja, se o Governo actual cair, a porta estará aberta para a retomada do poder pelas forças políticas que demagogicamente aproveitam do descontentamento para desregular o mercado do trabalho e privatizar radicalmente os serviços públicos. Esse resultado condenará Portugal a um atraso devastador em termos do seu desenvolvimento económico e social.

Finalmente, por mais satisfação pessoal que possa sentir ao ouvir elogios de ex-alunos sindicalistas, quero deixar muito clara a opinião seguinte: "os académicos apenas interpretam o mundo; a tarefa dos sindicalistas no terreno é transformá-lo!"

30.05.2010

* Professor do ISCTE

Foto: NE

domingo, 30 de maio de 2010

Ponta & Mola

Golpe contra governo
e desafio à velha
burocracia sindical

por António Alte Pinho*

A manifestação de ontem, que levou a Lisboa e à Avenida da Liberdade dezenas de milhar de pessoas, revela, desde logo, duas circunstâncias novas sobre as quais importa reflectir.

Ao contrário de outras, que apenas mobilizaram activistas e quadros sindicais, esta trouxe para a rua muitos sectores que, até então, não haviam sido mobilizados para o protesto, nomeadamente, muita gente de origem rural e trabalhadores de sectores não estratégicos.

Por outro lado, em várias zonas da manifestação, as pessoas aderiam com combatividade à palavra de ordem pela Greve Geral.

Uma e outra circunstância – num momento em que dentro do próprio movimento sindical, se manifestam posições “moderadas” que, tendo como argumento a “crise”, incitam os trabalhadores ao “bom senso” – revelam que a contestação ao governo, às suas políticas e ao PEC de miséria, alargaram o seu campo e que são cada vez mais os sectores [mesmo os menos esclarecidos] da sociedade portuguesa que radicalizam posições e manifestam disponibilidade para novas formas de luta.

Nesse sentido, a manifestação de ontem constitui um golpe de força e combatividade contra o governo de direita, mas também um desafio à velha burocracia sindical que se viu impotente para conter palavras de ordem mais “ousadas” e se esfalfou por colocar na cauda do desfile a semente mais insubmissa dos manifestantes – não fora o a coisa pegar-se e deitar por terra os planos do costume e a táctica previamente definida nos gabinetes dos controleiros…

Uma “esquerda bem comportada”

Em vários momentos, de forma repugnante e inqualificável, agentes do serviço de ordem da central sindical forçavam grupos de manifestantes para a cauda do desfile, de que foram exemplos mais caricatos a tentativa de afastar Garcia Pereira e seus camaradas, bem como o cordão “policial/sindical” que impediu jovens anarquistas de se integrarem na manifestação.

E até o Bloco de Esquerda colocou, entre o sector mais oficial do partido e o grupo Ruptura/FER [seu integrante], um carro de som para que o incitamento à Greve Geral não fosse entendido como posição oficial…

Estas esquerdas bem comportadas, alapadas na comodidade das tribunas parlamentares [percebe-se], reproduzem os mesmos tiques, a mesma arrogância e as mesmas práticas autoritárias que já provaram só levar à derrota e abrir caminha à direita e aos seus governos. E de que é exemplo a “aprovação” de uma proposta de moção que não foi votada por o burocrata de serviço achar “não ser necessário”, por estar à partida aprovada por unanimidade…

*Editor, membro da Comissão Directiva


Foto: NE

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Blogada

Reformados de todo o Portugal,
uni-vos!

por António Pedro Dores*

Quando foi da “Europa Connosco”, a saída política do processo revolucionário que fundou o actual regime político, opunha-se-lhe o que os vencedores chamaram o “miserabilismo”, isto é a defesa de um leque de rendimentos mais apertado e uma apostar nas solidariedades e cumplicidades próprias das consanguinidades culturais lusas com países do Terceiro Mundo. Escolhemos ser ricos. E aqui estamos.

Se fosse rico, com 54 anos deveria estar a planear como ocupar os anos de reforma, merecida pelos 30 anos de trabalho, como faziam nos países europeus (hoje só os funcionários da burocracia europeia de Bruxelas têm direito a tal). Em vez disso, estou preocupado com o que me irá suceder quando, daqui a mais quinze anos, deixar de poder trabalhar. Nessa altura dificilmente alguém encontrará qualquer resquício dos investimentos que fiz, através do Estado, para a minha reforma. De facto, embora tenha pago com os meus salários as reformas dos nossos mais velhos, em poucos anos os nossos mais novos estarão, em grande parte e os melhores de entre eles, fora do país que os abandonou à sua sorte, esmifrando-lhes a paciência em humilhações e desconsiderações intoleráveis. Do meu investimento restará a falência da segurança social.

Como os meus amigos de geração e de classe – embora sem ser racistas ou preconceituosos, claro – preferem viver em condomínios fechados ou pelo menos com parque automóvel subterrâneo, construindo assim o seu próprio mundo virtual entre as garagens do trabalho e de casa (e a escola dos miúdos, para aqueles que os fizeram), a quem irei recorrer quando, com os filhos no estrangeiro e sem amigos, precisar de uma sopinha aquecida para entreter o resto da vida? À reunião de condomínio?

Dos filhos dos outros, a recibos verdes e com trabalhos precários, posso esperar desprezo – bem merecido – por ter sido incapaz de lhes cumprir um destino aceitável. Dos governos que os representarão poderei esperar melhor do que daqueles que me representam agora? Continuarão o aproveitamento do ódio social entre grupos e estratos para dividir e a todos roubar o mais possível. Não é fácil conseguir recursos suficientes para alimentar as ambições de riqueza dos exploradores europeus virados cada vez mais para o seu próprio continente – a mama de explorar os outros, é certo, está no fim. Ironicamente isto vislumbra-se na sequência da globalização feita para enriquecer os patrões de um sistema que, agora, apenas conseguem prometer a redução dos rendimentos, mesmo e sobretudo daqueles de quem dizem não compreender como (ainda) sobrevivem com tanto pouco.

Não admira, pois, que a população europeia, como notou Agostinho da Silva alguns anos antes, se esteja a suicidar demograficamente: é a correspondência pavloviana, de facto, a uma política suicida das elites europeias, enlouquecidas pela sede de poder em tempo de secura.

Reformados provavelmente não faremos mais filhos. Mas seremos capazes de defender os valores morais que atraíram os povos que colonizámos, apesar das barbáries cometidas? Ou abandoná-los-emos, morrendo cobardemente e sem glória, amaldiçoando esta península continental para as civilizações futuras? Reformados, não nos podemos reformar: teremos que lutar pelas nossas reformas, o que quer dizer pela dignidade dos nossos filhos, sejam eles naturais ou adoptados. Como num jogo de futebol, a Europa Connosco reclama tensão aumentada no fim do jogo e vontade de marcar ao cair do pano.

*Sociólogo, membro da Comissão Directiva

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Deve & Haver

O discurso da verdade

por Alexandre Azevedo Pinto*

O primeiro-ministro e seu Governo mudaram de discurso ao longo destas duas semanas. O discurso do primeiro-ministro mudou de agulha, o que até então era branco passou a ser preto e o que era preto passou a ser branco. O que terá feito mudar a cabeça de José Sócrates? A pressão dos banqueiros? A pressão de Sarkosy e da Europa do Euro? A Crise Grega e o FMI? A pressão das agências de rating e dos mercados credores com títulos da nossa dívida pública? A verdade fria dos números ditados pelas estatísticas da dívida e do desemprego? A oportunidade da própria mudança à boleia da visita Papal e da vitória do Benfica no campeonato? A disponibilidade da oposição, leia-se do PSD de Passos Coelho, para coabitação estratégica? A resposta mais acertada poderia ser uma média ponderada de todos estes factores?

O que é um facto é que o primeiro-ministro mudou de opinião e da mesma forma, eloquente, que antes afirmava “branco” afirma agora “preto”. Quem por estes dias se tivesse ausentado do país, não sabendo notícias daquilo que por cá se passava, e agora regressasse e ouvisse Sócrates ficaria confuso com tão “paradigmática” mudança de opinião.

Por diversas vezes, deste Setembro do ano passado, aqui fui chamando à atenção para a necessidade do Governo assumir, em definitivo, o discurso da verdade. Uma verdade inconveniente, por certo, dada a catástrofe que a sua mensagem continha, mas a uma verdade que as pessoas tinham o direito de ouvir. Alguns economistas foram alertando a navegação, apesar da total complacência do Banco de Portugal e do seu Governador, Vitor Constâncio, entretanto eleito vice-governador do BCE.

Os dados macroeconómicos no inicio do último trimestre de 2009 eram já tão, ou mais, desfavoráveis para o país, nessa altura, do que aquilo que hoje acontece, quer estivéssemos a falar dos indicadores de crescimento do produto, da taxa de desemprego, do endividamento externo público e privado ou ainda do défice das contas públicas.

O que terá feito Sócrates e o seu Governo adiar o discurso da verdade? Táctica política? Cegueira e incapacidade de compreender o dramatismo da situação?

O discurso do ilusionismo político, tinha assumido um tal grau de exuberância que as palavras do primeiro-ministro José Sócrates suavam sempre à maior das verdades. Pura ficção. Já agora, o caro leitor também se apercebeu da mudança de atitude e do discurso do, ainda, Governador do Banco de Portugal? Ele há coincidências!

*Economista, membro da Comissão Directiva

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Contra o PEC e as medidas de austeridade!

PONTO DE ENCONTRO
NOVA ESQUERDA

Apelamos aos simpatizantes e aderentes da NE para que participem na Manifestação Nacional da CGTP-IN de 29 de Maio, Sábado, às 15 horas.

Vamos estar, a partir das 14.30 horas, junto do Instituto Camões
(Marquês de Pombal, quem sobe a Avenida, do lado direito).

A POLÍTICA AOS CIDADÃOS
Participemos na Manifestação de 29 de Maio

Todos sabemos que Portugal está à deriva, que está sem rumo, que está à beira da bancarrota. Entendamo-nos, não apenas bancarrota financeira, mas principalmente bancarrota social e política.

Bancarrota social como comprova a perspectiva de que, em vez de diminuírem, a pobreza e as desigualdades sociais, se vão agravar dramaticamente com o novo ciclo de austeridade imposto por José Sócrates às ordens de Bruxelas.

Bancarrota política: o sistema político e os partidos de poder estão totalmente desacreditados e divorciados da sociedade e das pessoas. Partidos esses que provocam intencionalmente a desesperança, o sentimento de que não há alternativa capaz de mobilizar a sociedade para um novo ciclo político de progresso e de justiça social fora da “alternância” sistémica.

Portugal é hoje um país refém das agências de rating e da especulação financeira internacional. Portugal está às ordens do directório de países que mandam na União Europeia, com a Alemanha à cabeça.

Como é que se chegou a uma tal situação? Quem são os responsáveis?

Anos e anos de mau governo, de corrupção e mais corrupção, de promessas não cumpridas.

Anos e anos de políticas neo-liberais em guerra contra as trabalhadoras e os trabalhadores. Políticas neo-liberais que instituíram a mistificação da inevitabilidade do desemprego e da precariedade, que impuseram o medo e a pobreza, e que, desse modo, vitimaram milhões de mulheres, de homens e de famílias, com baixos salários ou com pensões de reforma miseráveis, ou no desemprego.

Anos e anos de falsa alternância no poder, porque o poder de governar foi capturado pelos partidos gémeos de direita PS/PSD, com os seus governos e os seus políticos desonestos, medíocres e incompetentes, apenas preocupados em corresponder aos interesses das grandes oligarquias dominantes. Governos e políticos que têm fomentado e protegido a corrupção.

As relações laborais, o mercado do trabalho e do emprego passaram a reger-se pela lei da precariedade e os jovens, tal como aconteceu na fase final do Estado Novo, porque não têm hoje futuro dentro das fronteiras acanhadas, medíocres e madrastas de Portugal, são empurrados para a emigração.

Quais são as perspectivas de solução para tudo isto? Quando é que acabam os sacrifícios impostos aos trabalhadores? Quando é que acaba a austeridade? Podemos confiar nas promessas do governo Sócrates?

A resposta óbvia é que não existem soluções enquanto se mantiver um tal governo, e é de lamentar que o Presidente da República não consiga alcançar as consequências da terrível incapacidade de José Sócrates e dos seus ministros para superar a situação em que se encontra o País. Por muito menos, Jorge Sampaio demitiu Santana Lopes.

Porque o descrédito deste governo – com o seu parceiro de tango – chegou ao seu limite. Porque é um governo fantoche capaz apenas de criar mais desgraças. Porque é um governo de fachada telecomandado do exterior, anti-social e incapaz de mobilizar o ânimo e a criatividade de todos quantos querem trabalhar, produzir riqueza e ser solidários. Por tudo isto, a única alternativa viável é pôr os cidadãos ao serviço da política.

É essa a única alternativa: a política aos cidadãos! A manifestação de 29 de Maio é um bom começo de mobilização cidadã para forçar a demissão do governo Sócrates – e também um bom começo para se encontrarem novas alternativas políticas, que não passam pelos governos do PSD com a muleta do CDS!

A Nova Esquerda defende que a alternativa para Portugal é uma nova sociedade. Uma sociedade justa, solidária e ecológica.

Uma sociedade que substitua o modelo económico capitalista, que assenta na exploração desenfreada – sem quaisquer limites éticos ou considerações sociais e ecológicas, dos recursos naturais e da força de trabalho –, por um novo modelo de economia social de mercado.

Economia social que garanta o pleno emprego e a preservação dos recursos naturais e patrimoniais, que institua a partilha e a diminuição de tempo do trabalho, que reduza drasticamente as brutais diferenças salariais e desigualdades sociais.

Uma economia que promova e apoie – com especial responsabilidade da Caixa Geral de Depósitos – o terceiro sector de empresas em autogestão sem fins lucrativos, quer sejam iniciativas de criação de auto-emprego ou empresas que sucedam a privadas em processo de falência, cooperativas de produção, cooperativas de distribuição associadas a produtores e a cooperativas de consumo, cooperativas de ensino, culturais e artísticas, associações sociais.

Na medida em que a propriedade privada não é um direito divino, mas apenas um usufruto social concedido aos detentores de meios de produção, também o sector privado deve reger-se por finalidades solidárias e a actividade empresarial deve ser devidamente recompensada, em função dos seus contributos e boas práticas sociais.

A Nova Esquerda defende uma nova sociedade submetida aos valores supremos da justiça e da liberdade, que saiba valorizar os méritos de todos quantos contribuem para o progresso social. Uma sociedade que invista no conhecimento e na ciência.

Uma nova sociedade igualitária e sem discriminações, que assegure a igualdade de oportunidades e a igualdade perante a lei e a justiça.
Uma sociedade que garanta o direito ao trabalho, mas também o direito ao lazer, à formação, à educação, à cultura, à felicidade e à realização pessoais ao longo do ciclo de vida, em todas as idades.
Uma sociedade que não tolere o stress, o assédio, a discriminação e os abusos de poder no trabalho e, de um modo geral, se bata pela realização dos Direitos Humanos.
São alternativas com futuro, são soluções defendidas pela Nova Esquerda – Movimento para uma Nova Sociedade.

São alternativas de progresso, cuja concretização depende do empenhamento de mulheres e homens de todas as idades na dignificação e na valorização da democracia participativa e cidadã.

POR UMA SOCIEDADE JUSTA, SOLIDÁRIA E ECOLÓGICA!
POR UMA ECONOMIA SOCIAL DE MERCADO!

Lisboa, 25 de Maio de 2010

A Comissão Directiva

domingo, 23 de maio de 2010

Na rua contra o PEC

Contra o PEC e as medidas de austeridade!

Por uma sociedade justa solidária e ecológica!

Por uma economia social de mercado!

Deve & Haver

Portugal na bancarrota (II)

por Alexandre Azevedo Pinto*

Estas duas últimas semanas trouxeram novidades. O ataque dos especuladores internacionais ao Euro, no seu todo, parece por demais evidente. A Grécia foi a primeira grande vítima, Portugal está na linha de sucessão e será o próximo alvo, mas também a Espanha e a própria Itália não estão fora dos planos dos “predadores” internacionais, apesar da OCDE ter, durante a semana, tentado meter alguma água na fervura procurando fazer passar a mensagem aos mercados de que Portugal e Espanha estariam em situações bem diferentes, para melhor, relativamente aos Gregos. Stiglitz dizia ao Financial Times que o problema Grego poderia ser o princípio do fim do Euro.

A queda significativa do rating da dívida portuguesa dos conhecidos A (mais) para A (menos) trouxe uma cortina muito negra de suspeitas e pressão aos mercados dramatizando a capacidade do país cumprir os seus compromissos de crédito, contraídos no exterior, com os juros da dívida pública portuguesa a atingirem um máximo de 5 por cento no inicio da semana. A bolsa portuguesa assistiu a fortes quedas e o próprio Euro registou um forte contexto de desvalorização face ao Dólar.

Na minha opinião é importante que os portugueses percebam o contexto desta crise no contexto do próprio EURO e da crise a ele associada. É importante percebermos que o país, sobretudo depois da entrada no Euro, não conseguiu nunca gerar riqueza suficiente para “ir pagando” ao exterior a maioria das dívidas que foi contraindo. Na prática, o aparente bem-estar, conseguido durante estes últimos 10 anos, foi apenas e só o resultado de uma única coisa: maior e galopante endividamento externo.

De facto desde que entrámos na Zona Euro o país mais não conseguiu do que obter ligeiríssimos ou até medíocres níveis de crescimento, nunca conseguindo elevar os seus níveis de produtividade nem de contrariar o crescente agravamento dos indicadores de desigualdade na distribuição da riqueza. Tornámo-nos, bem mais pobres com o Euro do que aquilo que éramos com o Escudo.

De nada vale ter uma moeda rica, como é o Euro, num país pobre como é o nosso, se isso apenas servir para que outros, bem mais fortes do que nós e bem mais preparados, consigam alargar o seu mercado e fortalecer a sua riqueza e dominação. Na minha opinião a entrada do país na Zona Euro foi completamente desastrosa tendo, com ela, trazido enormes problemas estruturais que muito dificilmente podem ser ultrapassados, sem enormes sacrifícios colectivos, durante as próximas décadas.

*Economista, membro da Comissão Directiva

sábado, 22 de maio de 2010

A política aos cidadãos

Pedra a pedra,
a Nova Esquerda avança

O calor deste Sábado talvez não tenha sido muito apelativo para reuniões, mas lentamente fomos chegando. Percebemos haver, pela parte de alguns, o receio em participar em coisa tão pública. Houve quem dissesse que “estas coisas exigem algum recato” – e tivesse ido embora. E percebemos isso. Num país em que a liberdade é um acto formal, o exercício da cidadania atemoriza alguns. Mas temos para nós que é nessa transparência e nessa “coisa tão pública” que pode ancorar a construção de um novo projecto político, partindo da base para a afirmação de uma alternativa de esquerda e para novas práticas políticas.

Fomos poucos, é certo, mas o debate foi vivo e interessante. Do arranque ainda tímido da Assembleia de Almeirim, a este Encontro de Lisboa, algumas bases organizativas começam a ser lançadas.

A NOVA ESQUERDA – Movimento para uma Nova Sociedade iniciou, ontem (21 de Maio), o seu processo de legalização e hoje, neste Encontro de Lisboa, para além da viva discussão em torno da Declaração de Almeirim, decidiu-se apelar à participação dos aderentes e simpatizantes na Manifestação do próximo Sábado, 29 de Maio, organizada pela CGTP-IN, bem como emitir posição pública sobre o momento político e em solidariedade com os trabalhadores.

Por outro lado, definiu-se como prioridades operacionalizar e revitalizar a nossa comunicação, nomeadamente, o Site, o Blogue, a página de Facebook e a edição de um órgão de imprensa que expresse as nossas posições, revitalize o debate na Esquerda e dinamize a constituição de núcleos.

Foto: NE

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Construindo uma Nova Esquerda

Encontro NE Lisboa

Sábado > 22 de Maio > 15h30
Grupo Desportivo
e Cultural Fonsecas e Calçada
Rua Tomás da Fonseca
– Telheiras Sul

«O que mais preocupa não é o grito dos violentos, dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter, dos sem-ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons.»
(Martin Luther King)

A Comissão Directiva da NOVA ESQUERDA – Movimento para uma Nova Sociedade convoca os seus aderentes para um encontro cujo programa é, para além do mútuo conhecimento e troca de intenções, a difusão e discussão da Declaração de Almeirim recentemente aprovada, a organização de núcleos, a identificação de necessidades de intervenção solidária e animação da actividade política.

O encontro é aberto à participação de quem se possa sentir identificado com os objectivos do movimento e servirá também para organizar as actividades de recrutamento de militantes que, de momento, é uma das tarefas prioritárias.

O Grupo Desportivo e Cultural Fonsecas e Calçada possui um campo desportivo coberto e sem paredes onde se realizará o encontro. Fica na rua Tomás da Fonseca, junto à rotunda com a rua António Albino Machado, Telheiras Sul, fim da carreira de autocarro 738 – Quinta dos Barros. Servido também pela carreira de autocarros 701. As estações de Metro mais próximas são Laranjeiras e Telheiras.

Próximas iniciativas:
NE Encontro das Artes
(em data a designar)

terça-feira, 18 de maio de 2010

Blogada

É tempo de matar o porco!

por António Pedro Dores*

A sentença ilibatória do senhor Névoa, a par da sentença condenatória do senhor Ricardo Sá Fernandes, chocou o País. Só um estado adiantado de decomposição das instituições e da moral pública permite tal conjugação nefasta de factos. Só não ocorre alarme público por radical desesperança popular na autoridade do Estado.

De pouco adiantou, uma década atrás, o reconhecimento oficial, por Jorge Sampaio, da crise do sistema judicial, do empecilho que ele constitui (cada vez mais) para o desenvolvimento e a democracia no País e da necessidade de reverter urgentemente a situação. Chegados a tais extremos, porém, com tal funcionamento das instituições – sejam elas o Parlamento responsável pela legislação em vigor, ou os sucessivos tribunais que apreciaram este (e outros) caso (equivalentes mas menos mediáticos) – fica claro que a corrupção, para além de ser uma forma de (des)organização política do Estado e dos mercados, é uma prática não apenas tolerada mas também protegida.

A circunstância da crise financeira e económica europeia, dentro da crise global do domínio ocidental no mundo, em particular a necessidade de concretização do famoso PEC, de nenhum modo excluiu ou sequer secundariza o desígnio nacional de organizar a luta contra a corrupção. Pelo contrário: é também contra a corrupção estrutural que se dirigem as invectivas dos que contestaram a ajuda à Grécia sem garantias, sem condições e sem fazer sofrer com a demora da ajuda. O que, ainda que doutro modo, poderá bem ocorrer também com o nosso país, nos mesmos ou em outros termos.

Os custos financeiros da corrupção, pudessem ser avaliados, ainda que de forma controversa, caso fossem evitados, não deixariam de ser uma forte (decisiva?) ajuda às contas públicas. Porém, é ao nível económico, ao nível das práticas de mercado, da confiança entre agentes de desenvolvimento e entre o Estado e a sociedade civil, nas suas diversas matizes, é a esse nível que o impacto do combate à corrupção mais efeitos terá. Não será possível reorganizar o País com vista a uma nova fase de desenvolvimento que urge realizar com a promoção por parte do Estado da corrupção alargada, contra os actos de coragem cidadã de pessoas com provas dadas de disponibilidade para o serviço público, como é o caso do denunciante acima citado, transformado em “agente encoberto” como forma de o estigmatizar por ter organizado a denúncia do que todos sabemos serem práticas correntes e lesivas não apenas das contas da Câmara Municipal de Lisboa, mas do Estado, da economia e da moral do país.

A política, bem como as decisões judiciais, não podem continuar reféns de argumentações técnico-administrativas para protecção de interesses criminosos que sugam as nossas riquezas. O combate à corrupção tem de ser uma prioridade de primeira linha. Não pode continuar a acontecer que as maiores acusações – entre as diversas autoridades jurídicas entre si, inclusivamente, entre polícias e magistrados do MP, entre políticos contra “a corrupção organizada ao mais alto nível do Estado” – não tenham efeitos práticos de tocar a reunir o partido contra a corrupção. É literalmente criminoso não reclamar por políticas efectivas e urgentes de luta nacional contra a corrupção, o que significa recolha de informação disponibilizada por quem possa aderir politicamente a tal desígnio para tratamento e alimentação das reacções – penais, administrativas, organizativas económicas, financeiras e outras – que se venham a conseguir coordenar com o mesmo fim.

*Sociólogo, membro da Comissão Directiva

Foto: DR

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Jean Jaurès

A humanidade do Socialismo

Iniciamos hoje uma viagem por referências da corrente socialista ao longo dos tempos, de que Jaurès - perversamente apagado da "história oficial" da esquerda sistémica - é um extraordinário exemplo de luta e humanismo.

O texto "Figuras do Movimento Operário" não expressa necessariamente o ponto de vista dos editores deste blogue, mas é um contributo importante para a compreensão da obra de Jean Jaurès.


De igual modo, sugerimos vivamente a leitura de um artigo ("Os trabalhadores e o serviço público") de Jurès, publicado no jornal "L'Humanité", em 19 de Fevereiro de 1911, e reproduzido por "Biblioteca Diplô".

Ver mais em:
http://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/02/jaures.htm
http://diplo.org.br/2004-06,a937

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Lugar à Esquerda

União Europeia?

por Mário Leston Bandeira*

Tendo passado 24 anos sobre a entrada de Portugal na CEE, em situação normal já seria tempo de se analisar criticamente os resultados dessa adesão e de se fazer um balanço político dos seus custos e benefícios.

Mas não estamos numa situação normal, porque Portugal e a maior parte dos seus parceiros da União Europeia estão a afundar-se numa situação cada vez mais grave. Comecemos então a fazer o balanço. Já chega de blá-blá europeu.

Na época da entrada na CEE, a intelligentzia portuguesa europeísta e a maioria da população aderiu, nalguns casos entusiasticamente, à ideia. Mas entre os entusiastas os motivos variavam.

Havia os que honestamente pensavam, e estavam no seu pleno direito, que Portugal beneficiaria com a sua integração num espaço economicamente próspero.
Mas os mais entusiastas seriam talvez os que esperavam ter oportunidades para fazer bons negócios e ganhar muito dinheiro, ou então para conseguir belos empregos na burocracia de Bruxelas.

Em alguns sectores, porventura mais lúcidos, alimentava-se talvez cinicamente a esperança de que, dada a indigência da vida política portuguesa e dos seus principais protagonistas e também o atraso cultural e o conservadorismo de grande parte da população portuguesa, a CEE “obrigaria” Portugal a modernizar-se e a atingir os padrões de vida e de desenvolvimento a que tinham chegado os nossos novos parceiros.

Dito de outra maneira: no entender dessas pessoas, provavelmente intelectuais cinicamente cépticos em relação ao futuro da mãe Pátria, era bom que viesse “alguém” de fora que fizesse por Portugal aquilo que os políticos, os patrões, os empresários e os banqueiros indígenas não conseguiam fazer. No fundo deles próprios, acreditavam nas virtualidades da estratégia da cenoura e do chicote, ou seja, a cenoura dos fundos estruturais e o chicote das leis, das regras e das ordens decididas em Bruxelas.

Com o passar do tempo, mesmo os nossos eurocépticos – o PCP e o PP do Manuel Monteiro – foram amolecendo, aderindo circunspectamente a um consenso nacional europeísta, o qual se reforçou com a entrada de Portugal no euro em 2002. O orgulho nacional de pertencer à UE já tinha, aliás, começado a subir em flecha com a aprovação em 2000 da Estratégia de Lisboa e atingiu o rubro com a recente assinatura do Tratado constitucional de Lisboa.

Pelo meio deste passar do tempo, até o primeiro-ministro Durão Barroso se deixou seduzir pela sereia de Bruxelas (não a de Copenhaga) e lá partiu ele para um belo emprego, deixando o país entregue ao Santana Lopes. Um golpe de génio.

Tem muitas histórias a história destes 24 anos de CEE/UE, como por exemplo as dos famosos fundos estruturais que, para além de terem contribuído para a construção de muitas auto-estradas, muitas delas desnecessárias, deram para muitas outras coisas, como por exemplo, arrasar com a agricultura, com as pescas, com as vias férreas e encher os bolsos de muito “boa” gente. Não vale a pena pormenorizar mais.

O texto já vai longo e o mais importante ainda não foi dito.

Em Março de 2000, o Conselho Europeu aprovou a chamada Estratégia de Lisboa que definia como principais objectivos da UE até 2010: promover o emprego e a coesão social através duma economia baseada no conhecimento.

Chegámos a 2010 e qual pode ser o balanço português destes nobres objectivos? A resposta é óbvia: desemprego, recessão económica, aumento das desigualdades e das discriminações sociais, aumento dos impostos, mais pobreza, mais corrupção.

E, como se não bastassem todas estas desgraças, confirmou-se politicamente durante o último fim-de-semana um facto que já era evidente desde há alguns anos: a supremacia dos países do Norte da Europa com a Alemanha à cabeça.
As ordens vêm do Norte e isso explica que o Primeiro-Ministro português tenha ido a Bruxelas no passado fim-de-semana receber guia de marcha: mais cortes, mais impostos, mais sacrifícios para os sacrificados do costume. Já estava tudo cozinhado em Bruxelas, o Governo português e o seu ministro das Finanças não precisaram de se chatear, não precisaram de fazer contas, o que, aliás, estaria para além das suas capacidades. Basta conferir os ziguezagues das previsões acerca do deficit que esses senhores foram papagueando desde o Verão passado, para se perceber que eles não conseguiram aprender a tabuada.

Há no meio de tudo o que tem vindo a acontecer um facto novo que me parece indesmentível: a chamada União Europeia já não existe. No lugar dela, temos agora, pelo menos três: a primeira, a que manda, que é a do Norte e outras duas, as que obedecem, que são do Sul e do Leste.

Esta nova tipologia ajuda-nos, aliás, a perceber que, sendo o Norte que comanda, é natural que a Irlanda, o Reino Unido e a Bélgica, cujas finanças também andam pelas ruas da amargura, sejam os países poupados pelo directório. Solidariedades puramente geográficas está-se mesmo a ver, nada disto tem nada a ver com racismo.

Quanto aos países do Sul, o dito directório chama-lhes PIGS (Portugal, Italy, Greece, Spain) e considera que são países incapazes de se governarem. Terão, não terão razão? Se calhar, já não temos a Europa connosco. Em que é que ficamos? À espera de Godot?

Se calhar o que é preciso é acordar.

Acordemos, não fiquemos em casa a ver televisão, não falemos só de futebol ou do vestido da vizinha ou do da colega de trabalho, não deixemos a política para os políticos e para os jornalistas, discutamos com quem aparecer, sejamos solidários, intervenientes. Sejamos capazes de lutar por causas, pondo em causa esta sociedade resignada, acomodada, em que às vezes parece que mesmo a desgraça do vizinho pouco importa.

Porquê acordar?

Quem nos garante que as desgraças alheias não vêm também bater à nossa porta?

* Professor Catedrático, Coordenador da Comissão Directiva

Blogada

Pedra por pedra

por António Pedro Dores*

Precisamos um partido de paredes de vidro a múltiplas vozes, sem centralismos, seja qual for o adjectivo que se lhe siga. Precisamos de um partido virado para a liberdade de expressão dos militantes de base e para os seus problemas locais e não para consagrar mediaticamente as mais brilhantes ideias de dirigentes vitalícios. Queremos um partido europeísta mas que não aceite ordens de Bruxelas, como ultimatos. Queremos uma União Europeia dos povos e não dos burocratas e seus aliados, de moral cada vez mais duvidosa e perdida. Esse partido – apesar de desejável – não existe em Portugal.

Queremos criá-lo?

A esquerda purificada finge-se irresponsável perante o que se passa em Portugal, pelo facto de não pertencer ao arco do poder. Na prática, tal atitude tem negado às propostas de esquerda qualquer vigência regular e eficaz na vida institucional e, portanto, na vida social. A Nova Esquerda deve começar por assumir as suas responsabilidades próprias na situação, pelo simples facto de não se ter constituído antes – apesar do espaço político estar lá vazio, faz muito tempo, à espera de ser ocupado. Não vale a pena fingir, como foi feito na viragem de regime de 1974, que não há responsáveis pelo descalabro, nem dentro do regime nem fora dele. Se alguma coisa precisa de (e pode) mudar em Portugal é a ética política e pública.

O medo difuso mas persistente e característico que sentimos e vivemos tem de ser substituído pelo orgulho. Orgulho de querermos mudar de vida e sermos capazes de dar passos nessa direcção. Não em função de seitas que asseguram a subida na vida, como pactos com o Diabo. Não em função da resignação perante as convenientes aparências das “solidariedades” com Bruxelas, branqueadoras e estimuladoras da corrupção organizada aos mais alto nível em diversos (todos?) os estados da União. Orgulho de darmos a nossa cara e o nosso tempo para nos organizarmos, em solidariedade com outros, que pensem de modo diferente mas que compreendam a necessidade de sanear a vida pública.

Essa solidariedade de que Portugal e a Europa precisam para cumprir as suas melhores tradições – em particular a tradição democrática liberal e social por direitos – é pluralista. Deve, pois, estender-se a todas as organizações cívicas e políticas que possam colaborar para dobrar este cabo das tormentas em que estamos encalhados. Porém, se há instituição que faz falta, essa é a de uma força política capaz de dar esquerda à governança de Portugal e, ao mesmo tempo, libertar cada um dos portugueses e das instituições em que trabalham do torpor herdado do obscurantismo que, por toda a evidência, o regime actual quis continuar do regime fascista, como garantia de paz podre, que efectivamente conseguiu.

O sequeiro de que Portugal foi alvo nos tempos mais recentes está a chegar ao fim. Não porque a Esquerda tivesse feito alguma coisa por isso. Mas simplesmente porque o saque já não tem mais por onde continuar a crescer. As desigualdades evidentes duram há muitos anos, mas são hoje moralmente intoleráveis. Pior é a cumplicidade evidente das principais instituições do país. A falta de democracia que temos vivido revela-se nos resultados: nenhuma esperança de mudança. Tudo é ficção e vigarices.

Cada um terá que assumir a sua cota de responsabilidade, humildemente, para que as próximas gerações possam usufruir de um espaço público educado e despoluído. Como no tempo das catedrais, cada artesão há-de produzir-se e assinar a sua pedra. Para reconhecimento futuro da nossa vontade colectiva. A Nova Esquerda será isso ou não será.

*Sociólogo, membro da Comissão Directiva

Foto: DR

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Tudo Isto e Muito Menos

sexta-feira, 30 de Abril de 2010
Pequenos Passos - Parte I

Acho que estamos a chegar ao fim. Os sintomas sucedem-se um após o outro. Ou é o escândalo da corrupção na política, a enésima falha da justiça, o empresário que distribui luvas pelos "amigos" influentes, as violações e reduções constantes dos direitos dos trabalhadores.. enfim. Os exemplos são muitos. Ou, para mim, os suficientes.

George Carlin disse em tempos que a humanidade está a rodar à volta do ralo. Somos a água a descer em espiral à volta do ralo da bacia e a espiral está a tornar-se cada vez mais curta nas suas revoltas, rápida na frequência e íngreme na queda. Como espiral que é.

Quando questionado sobre quais as alternativas que via para o Homem, já que no modelo actual o desemprego, a escassez de alimento e água serão realidades às quais, a médio prazo, nos teremos que habituar, o jornalista Daniel Estulin diz algo que me dá algum alento. Daniel Estulin tem-se debruçado de há uns bons dez anos a esta parte sobre o Grupo Bilderberg. Tem pelo menos um livro escrito mas eu só conheço o seu trabalho pelos artigos e entrevistas que vi na net. Para ele, o Homem conseguirá ter sucesso se recorrer à auto-suficiência organizando-se em pequenas comunidades. Eu também sou da mesma opinião e ao que parece há mais gente a pensar assim.

Tropecei há dias num site curioso, o RadicalRelocalization.com. E deste site fui para um outro, o TransitionTowns.com. Nestes sites vi que as pessoas se estão a organizar e isso parece-me bom. Já sabia que algumas cidades americanas tinham criado moedas locais para dinamizarem a economia local, mas não sabia que este "movimento" estava tão difundido. Confesso que fiquei contente. Só me chateou o facto de nos sites pedirem dinheiro pelos livros e afins. De qualquer forma a ideia de que há grupos de pessoas que querem e promovem a subsistência em comunidade baseada nos recursos naturais e humanos dessa comunidade parece-me bastante animadora. Já agora, era injusto falar nestes projectos e não mencionar os 30 años de história anarca de Marinaleda.

Neste momento acho que temos duas opções:

- resignar-mo-nos, sermos subjugados e fingir que o progresso é assim mesmo (desde que a próxima televisão no mercado seja FULL HD 3D & BIMBY Compatible);

- ou tornar-mo-nos activos em comunidade. Como? Talvez estudando outros exemplos de comunidades e tentar aplicá-los à realidade local... por exemplo.

A opção de nos mantermos como ferramentas produtivas neste sistema que já mostrou estar falido é o mesmo que aceitarmos perpetuar a nossa actual condição de escravos. A qualidade de vida que conhecemos hoje é superior àquela que vamos ter amanhã que, por sua vez, será superior à do dia seguinte. E assim por diante. Só não vê isto quem não quer (ou quem está à espera da próxima televisão no mercado).

Optar pelo activismo local para desenvolver uma forma de subsistência devidamente sustendada pelos recursos disponíveis é a maneira que temos de garantir que a falência do sistema não se reflecte directamente nas condições e qualidade de vida de uma comunidade. E é também a maneira de abandonarmos a condição de escravos. Além disso, tem o lado bastante importante de ser uma forma de resistência passiva contra o actual sistema. É como dizer: "Já não gostamos desse jogo, nem tão pouco concordamos com as regras, portanto, NÓS não jogamos". Mas isto tem que ser dito no plural. No singular é impossível... ou efémero.

O meu pessimismo diz-me que já não há saída. As vozes necessárias para dizer "NÃO JOGAMOS!" estão demasiado dispersas, diluídas num mar imenso de cegos que não querem ver e que vão continuar a alimentar a máquina, iludidos com a ideia da liberdade que na verdade não têm. Convencidos que a liberdade está numa bandeira.

Tudo está bem enquanto se pagar a prestação da casa e do carro... o resto não é connosco... transcende-nos. O resto é para eles, os políticos, os economistas, os gestores e administradores decidirem, eles que são os estandartes da bandeira. É com este pensamento que temos sido impregnados: somos naturalmente incapazes e devemos delegar em terceiros a responsabilidade de nos organizarmos. E é este pensamento castrador que nos impede de progredir.

http://tudoistoemuitomenos.blogspot.com/

Ponta & Mola

Portugal dos pequeninos

por António Alte Pinho*

O lixo sistémico navega nas águas sujas do parlamentarismo “bem comportado”. Soube agora que o PS, coadjuvado pela esquerda bloquista e comunista, se opôs a que o Parlamento se pronunciasse sobre o roubo de gravadores de jornalistas por parte do deputado Ricardo Rodrigues, alegando tratar-se de “comportamento pessoal e não político”…

Quer dizer, Ricardo Rodrigues dá uma entrevista enquanto deputado – e na Biblioteca da Assembleia da República –, nessa entrevista pratica um acto previsto e punível no Código Penal como roubo, mas os seus pares da esquerda patusca e alegre não encontram no facto nada de político (!?), relevando a questão: para que serve a “Comissão de Ética”?

Pelo andar da carruagem, poder-se-ia (em tese) admitir a possibilidade de os deputados, desde logo, poderem: 1. Roubar carteiras; 2. Praticar violações; 3. Promover homicídios… que isso – segundo o entender do PS, BE e PCP - seriam comportamentos de natureza pessoal, de momento que [presumivelmente] tais crimes fossem praticados na Biblioteca da Assembleia da República…

Sobre o “comportamento pessoal” de Ricardo Rodrigues, fiel servidor socratino, poder-se-á avivar a memória aqui: http://jornalprivado.blogspot.com/2009/11/o-ps-e-corrupcao.html
. Quanto a bloquistas e comunistas, que cada um fique na paz da sua consciência…

*Editor, membro da Comissão Directiva

Foto:DR

Blogada

O Papa contra papistas

por António Pedro Dores*

Da minha distraída memória relativamente às discussões televisivas sobre a visita do Papa a Portugal fixei, talvez por terem sido particularmente vivas, as de Rebelo de Sousa – “explicando” como a Igreja está a ser vítima de uma cabala, pois “a pedofilia está em todo o lado” – e a de um conhecido fundamentalista a quem foi admitido, sem nenhuma reacção, afirmar que desde há dois mil anos a Igreja Católica defende a democracia.

Refiro-as aqui porque as declarações do Papa no avião que o trouxe de Itália apontam tais atitudes – com um conhecimento de causa e autoridade que escapam ao comum dos mortais – como as inimigas da Igreja. Disse ele, com razoável transparência e sem ambiguidades, que as cabalas contra a Igreja de que se fala vêm de dentro da Igreja, nomeadamente aqueles que pretendem ou continuar a ocultar os crimes ou, reconhecendo a sua irreversível visibilidade, pretendem impor o perdão aos culpados sem admitir a intervenção da justiça.

Aguarda-se, então, pela penitência destes nossos católicos militantes, justificando-se por serem mais papistas que o Papa, como costuma dizer-se, e afastando-se assim do estigma de serem parte da conspiração para destruir a própria Igreja a que dizem pertencer. Poderemos esperar pela intervenção de jornalistas do regime para esclarecer esta questão? Nomeadamente junto do Patriarca de Lisboa, cuja voz ambigua mais pareceu suportar os conspiradores do que a rara clareza papal, que os jornais espanhóis associaram à terceira professia de Fátima.

O certo é que antes da chegada do Papa o cartaz que me incomodou o passo e que deveria servir-lhe de boas vindas foi retirado. Serão já as forças de limpeza a actuar no seio da Igreja portuguesa?

*Sociólogo, membro da Comissão Directiva

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Blogada

Acreditar
foi o pai que ensinou?

por António Pedro Dores*

ACREDITAR FOI O PAI QUE ENSINOU, em letras grandes, - sito de cor - é uma frase publicitária escolhida para divulgar a chegada do Papa a Portugal. Um imberbe em pose de imberbe faz de figurante. De imediato alguma coisa me arrepiou: a hipocrisia parecia sorrir por detrás do cartaz, oculta mas tão evidente que me repugnou.

A minha vida religiosa acabou na minha primeira comunhão. Depois das aulas de catequese em que nos contavam parábolas sem apelo à compreensão – por pressão da minha mãe que nos pediu para aprender primeiro e escolher depois – fiquei sobretudo impressionado com a ideia de deglutir o corpo de Cristo simbolizado na hóstia. Não posso dizer que me preparei bem – aquilo de ter que me confessar de “maldades” quotidianas era um bocado estúpido – mas lá que me emocionei com a entrada da

hóstia no meu corpo, emocionei. Enregelei rapidamente quando notei que os adultos que me enquadravam nem reparavam no que eu sentia nem eles próprios sentiam – aparentemente – nada.

A partir daí deixei de me referir à religião. É como se não existisse. Por isso, para mim, vir o Papa é o mesmo que ir ou nunca por cá ter passado ou jamais ter existido. Claro que estou consciente das consequências da sua existência, mas no meu íntimo algo bloqueou a tal respeito.

Numa ocasião em que o Papa é conotado, com razão ou sem ela, com o nazismo e o abuso sexual de crianças, a frase publicitária que o acompanha aparece-me como uma provocação. Ou até uma confissão. A racionalidade da Fé cristã, que também existe como potencialidade, é completamente eliminada desta frase, centrada na obediência patriarcal. O Pai, o meu pai e o padre, como se fossem uma santíssima trindade, aparecem aglomerados num PAI no meio de uma frase escrita em letras grandes. O Führer e o abusador sexual (pai ou padre) não deixam de poder estar incluídos no conceito, por antagonismo à mãe, à minha mãe – que foi quem me recomendou a Fé católica – e a todas as mulheres, sedentas de Paz. Porque são elas, crianças, jovens ou velhas, as maiores vítimas da guerra e da violência, dos Imperadores e dos patriarcalistas.


*Sociólogo, membro da Comissão Directiva

Foto: DR

Opinião

Saber e Cultura

por José Jorge Munhoz Frade*

Voltemos à questão da valorização do saber, na Sociedade dos dias de hoje. Tenho como certo que para muitos esta não é uma questão verdadeiramente importante, já que entendem que a dinâmica social se determina pelas posses que indivíduos e famílias detenham. Seria talvez pertinente perguntar porque em relação a este entendimento concordam os extremos do leque político-ideológico, mas deixemos aqui esse repto para outro fórum.

Analisemos antes o eventual antagonismo entre o antigo saber de experiência feito e o conhecimento adquirido em estabelecimentos de ensino. No que respeita a este último, vários formatos podem decorrer na idade adulta, sejam cursos de formação profissional, licenciaturas, pós-graduações, especializações, mestrados, competências, ciclos de estudos, estágios, actualizações, etc.
Sendo que a iniciativa umas vezes parte dos interessados, visando objectivos de carreiras profissionais ou projectos de vida, outras vezes são as próprias empresas empregadoras que promovem tais acções, no sentido de preparar os recursos humanos para os objectivos institucionais.

Processo bem distinto é o que caracteriza a outra forma de conhecimento, que todos nós experimentamos, e que a velha expressão “saber de experiência feito” consagrou. Conhecimento integrador de aprendizagens, sinónimo de cultura, sem o qual ninguém é possuidor da Sabedoria. Essa forma de conhecimento não se desenvolve com metas pré-determinadas, antes cresce ao longo do percurso da vida de cada indivíduo, dependente dos contextos bio-psicológicos, familiares e sociais.

Esse Saber pode ter – estou absolutamente convencido da sua imprescindibilidade – um relevante papel na Família e na Sociedade.
No entanto, é grande a resistência à aceitação da sua importância e ao reconhecimento do seu valor, na Sociedade em geral, e particularmente nas empresas, erroneamente vendo-o como antagónico ao conhecimento técnico-científico, quando na verdade o complementa e humaniza.

Nos apressados tempos em que a nossa vida decorre, entre muitas palavras soltas pelas ondas dos media, algumas já vão escasseando, raramente alcançando os nossos sentidos com eficácia, atingindo nas nossas mentes a profundidade dos conceitos.
Nesse caso está a palavra Cultura. Os que da vida têm um sentido muito pragmático perguntam para que serve. Outros, mais intelectualmente artificiosos, querem que definamos o que é.

Vivendo numa sociedade rodeados por bens permutáveis, aceitemos que os bens culturais também possam ser considerados produtos, a contento dos práticos da vida.

Nesse mercado de produtos – hoje em dia já não passivamente expostos em prateleiras de supermercado, mas que literalmente voam em direcção aos olhos e ouvidos do público-alvo – o consumidor que logre encher o seu carrinho com maior número de itens poder-se-á considerar o mais culto?

Será esse desiderato atingido pelo somatório de um certo número de leituras, assistência de concertos de música clássica, teatro, ballets e óperas seleccionados, viagens a certas cidades e visitas a museus escolhidos, como programa mínimo obrigatório?

Na verdade, nessa clássica visão de Cultura parece ter-se estribado todo um Mito em falência, pois que apenas uma pequena parcela da Humanidade a conseguia realizar.

A falta de aderência (para usar um termo do agrado dos economistas) à realidade social desse plano cultural ficou bem patente na pergunta que o homem da rua depreciativamente faz: - para que serve essa cultura?

Ao identificar cultura com erudição, excluindo a sabedoria proveniente dos saberes populares, das vivências tradicionais, das especificidades regionais, da diversidade étnica, gerou-se um grande equívoco.

Alguns dir-nos-ão que terá sido intencional, com perspectiva de perpetuação do poder da classe dominante, mas convenhamos que essa fase histórica foi ultrapassada, visto que a dominação hoje é feita de modos mais eficazes do que pela ideologia.

Sem querer menosprezar os grandes artistas da cena mundial, a diversificada e feérica cultura dos nossos tempos pode ser vista como uma grande arena, que nos mantém fascinados no dia-a-dia. Para isso serve, para nos anestesiar por excesso de sensações. É a velha receita dos tiranos da velha Roma: panem et circensis...
Não queremos ficar numa simples dicotomia maniqueista, reduzindo a nossa análise em afirmações do tipo de que a realidade da questão cultural se caracteriza pela clivagem cultura para as elites versus cultura para o povo.

Relativamente ao nosso velho “jardim à beira-mar plantado”, não nos parece merecedor de grande polémica considerar que o nível geral de cultura geral das populações é actualmente baixo.

Seria pois um desígnio nacional colocar a fasquia a um nível mais elevado. Porquê, para quê? Como?

Muitas perguntas para as quais os profissionais do ensino, da comunicação social, agentes culturais, educadores em geral, famílias e toda a sociedade civil no seu conjunto têm de encontrar respostas.

Que não se pense que a nossa atitude é um nostálgico desejo de regresso a obscuros tempos de antanho.

Sem cepticismo, aguardo resultados de uma certa massificação cultural. Tenho uma grande expectativa e – não nego – algum optimismo, pelas consequências – que não podem deixar de ser positivas – de tanto livro a ser vendido em supermercados, provocando a modificação do estilo promocional das próprias livrarias, tornando-as mais abertas e atractivas.

Nos meus tempos de menino, líamos tudo o que a mão pudesse alcançar, desde as bandas desenhadas dos jornais à chamada literatura de cordel, como os livrinhos de “cóbois” trocados entre colegas, os empréstimos das bibliotecas escolares devorados à luz de lanterna depois da mãe apagar a luz do quarto, os romances de capa mole das tias, etc, etc.

Diz-se que nestes tempos de parafernália áudio-visual está instalada a preguiça da leitura. Tenho alguma dúvida sobre essa afirmação. O panorama editorial nunca foi tão diversificado, e o marketing dos livros é eficaz, integrado com os produtos culturais multimédia. Daí a minha curiosidade em estar atento aos resultados.
Quantas serão as crianças e jovens leitores de hoje que nos surpreenderão amanhã? Se ao leitor esta é uma pergunta que possa aparentar apenas interesse estatístico, esclareço que se entenda que a resposta à questão teria um significado muito mais amplo.

Seria uma forma de saber qual o reflexo das influências dessas leituras, sobre jovens mentes inquietas, atentas a um Mundo complexo, eventualmente desafiadas pela dinâmica dos antagonismos, ajudando-nos a perceber até que ponto a sua criatividade natural terá sido estimulada.

Tenho como certo que a expectativa na Juventude continua a justificar o nosso optimismo. Se o atrevimento natural dos jovens – e o mesmo se diga dos criadores culturais em geral – se deixasse inibir pelas interdições de um Mundo tabelado, feito à conveniência dos negócios, a própria literatura seria reduzida a uma ciência árida e a poesia tornar-se-ia clandestina.

Num Mundo sem Sonho, sem Cultura, entraríamos no obscurantismo, seríamos rapidamente espoliados da nossa própria Vida.

* médico
Foto: DR

Mudar de políticas? Depende de nós! - Rede de auto-ajuda política

A NOVA ESQUERDA - Movimento para uma Nova Sociedade quer corresponder às necessidades políticas do país e, ao mesmo tempo, ultrapassar as necessidades políticas do país. Isso não se fará de imediato nem através de um golpe de génio. Far-se-á pelo respeito que possamos promover por nós próprios e por aqueles que se disponham a trabalhar connosco.

Não vamos alimentar discussões estéreis e rivalidades pessoais. Vamos, isso sim, recrutar grupos de pessoas que se interessam pela política para que, juntas, possam desenvolver um espaço de criação e afirmação de ideais e de actividades políticas a propor ao país.

A organização descentralizada faz-se por núcleos NE-MNS, que têm um nome - por exemplo, “prisões sem guardas” (que é uma coisa que já existe noutros países) – um responsável para contactos de outros núcleos, da Comissão Directiva ou de outras entidades, e preferencialmente um blog ou outro modo de se dar ao diálogo e a conhecer a quem esteja interessado no assunto.

A NE-MNS dispõe deste blog para servir de plataforma de inter-conhecimento sobre os núcleos, onde estarão listados os núcleos existentes, com os nomes dos respectivos responsáveis (e contactos; caso o desejem) e uma ligação ao espaço próprio onde divulgam as suas discussões e actividades.

Para este blog devem os núcleos canalizar as suas propostas de acção (abaixo-assinado, refeição convívio, manifestação, tomada de posição, etc.) ou as suas actividades de debate. Da solidariedade dos núcleos uns com os outros dependerá o potencial de sucesso das iniciativas de todos e de cada um.

Mas o blog é, de igual modo, espaço para a livre expressão de opiniões e perspectivas pessoais, de contributos necessários à construção e afirmação de uma NOVA ESQUERDA e de novas práticas políticas.

Vamos dar expressão aos nossos desejos, porque ninguém o fará por nós!

Para nos contactar ou enviar sugestões utilize o e-mail bloguenovaesquerda@gmail.com

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