
por Alexandre Azevedo Pinto*
O primeiro-ministro e seu Governo mudaram de discurso ao longo destas duas semanas. O discurso do primeiro-ministro mudou de agulha, o que até então era branco passou a ser preto e o que era preto passou a ser branco. O que terá feito mudar a cabeça de José Sócrates? A pressão dos banqueiros? A pressão de Sarkosy e da Europa do Euro? A Crise Grega e o FMI? A pressão das agências de rating e dos mercados credores com títulos da nossa dívida pública? A verdade fria dos números ditados pelas estatísticas da dívida e do desemprego? A oportunidade da própria mudança à boleia da visita Papal e da vitória do Benfica no campeonato? A disponibilidade da oposição, leia-se do PSD de Passos Coelho, para coabitação estratégica? A resposta mais acertada poderia ser uma média ponderada de todos estes factores?
O que é um facto é que o primeiro-ministro mudou de opinião e da mesma forma, eloquente, que antes afirmava “branco” afirma agora “preto”. Quem por estes dias se tivesse ausentado do país, não sabendo notícias daquilo que por cá se passava, e agora regressasse e ouvisse Sócrates ficaria confuso com tão “paradigmática” mudança de opinião.
Por diversas vezes, deste Setembro do ano passado, aqui fui chamando à atenção para a necessidade do Governo assumir, em definitivo, o discurso da verdade. Uma verdade inconveniente, por certo, dada a catástrofe que a sua mensagem continha, mas a uma verdade que as pessoas tinham o direito de ouvir. Alguns economistas foram alertando a navegação, apesar da total complacência do Banco de Portugal e do seu Governador, Vitor Constâncio, entretanto eleito vice-governador do BCE.
Os dados macroeconómicos no inicio do último trimestre de 2009 eram já tão, ou mais, desfavoráveis para o país, nessa altura, do que aquilo que hoje acontece, quer estivéssemos a falar dos indicadores de crescimento do produto, da taxa de desemprego, do endividamento externo público e privado ou ainda do défice das contas públicas.
O que terá feito Sócrates e o seu Governo adiar o discurso da verdade? Táctica política? Cegueira e incapacidade de compreender o dramatismo da situação?
O discurso do ilusionismo político, tinha assumido um tal grau de exuberância que as palavras do primeiro-ministro José Sócrates suavam sempre à maior das verdades. Pura ficção. Já agora, o caro leitor também se apercebeu da mudança de atitude e do discurso do, ainda, Governador do Banco de Portugal? Ele há coincidências!
*Economista, membro da Comissão Directiva
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