
por Alexandre Azevedo Pinto*
Estas duas últimas semanas trouxeram novidades. O ataque dos especuladores internacionais ao Euro, no seu todo, parece por demais evidente. A Grécia foi a primeira grande vítima, Portugal está na linha de sucessão e será o próximo alvo, mas também a Espanha e a própria Itália não estão fora dos planos dos “predadores” internacionais, apesar da OCDE ter, durante a semana, tentado meter alguma água na fervura procurando fazer passar a mensagem aos mercados de que Portugal e Espanha estariam em situações bem diferentes, para melhor, relativamente aos Gregos. Stiglitz dizia ao Financial Times que o problema Grego poderia ser o princípio do fim do Euro.
A queda significativa do rating da dívida portuguesa dos conhecidos A (mais) para A (menos) trouxe uma cortina muito negra de suspeitas e pressão aos mercados dramatizando a capacidade do país cumprir os seus compromissos de crédito, contraídos no exterior, com os juros da dívida pública portuguesa a atingirem um máximo de 5 por cento no inicio da semana. A bolsa portuguesa assistiu a fortes quedas e o próprio Euro registou um forte contexto de desvalorização face ao Dólar.
Na minha opinião é importante que os portugueses percebam o contexto desta crise no contexto do próprio EURO e da crise a ele associada. É importante percebermos que o país, sobretudo depois da entrada no Euro, não conseguiu nunca gerar riqueza suficiente para “ir pagando” ao exterior a maioria das dívidas que foi contraindo. Na prática, o aparente bem-estar, conseguido durante estes últimos 10 anos, foi apenas e só o resultado de uma única coisa: maior e galopante endividamento externo.
De facto desde que entrámos na Zona Euro o país mais não conseguiu do que obter ligeiríssimos ou até medíocres níveis de crescimento, nunca conseguindo elevar os seus níveis de produtividade nem de contrariar o crescente agravamento dos indicadores de desigualdade na distribuição da riqueza. Tornámo-nos, bem mais pobres com o Euro do que aquilo que éramos com o Escudo.
De nada vale ter uma moeda rica, como é o Euro, num país pobre como é o nosso, se isso apenas servir para que outros, bem mais fortes do que nós e bem mais preparados, consigam alargar o seu mercado e fortalecer a sua riqueza e dominação. Na minha opinião a entrada do país na Zona Euro foi completamente desastrosa tendo, com ela, trazido enormes problemas estruturais que muito dificilmente podem ser ultrapassados, sem enormes sacrifícios colectivos, durante as próximas décadas.
*Economista, membro da Comissão Directiva
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