domingo, 30 de maio de 2010

Ponta & Mola

Golpe contra governo
e desafio à velha
burocracia sindical

por António Alte Pinho*

A manifestação de ontem, que levou a Lisboa e à Avenida da Liberdade dezenas de milhar de pessoas, revela, desde logo, duas circunstâncias novas sobre as quais importa reflectir.

Ao contrário de outras, que apenas mobilizaram activistas e quadros sindicais, esta trouxe para a rua muitos sectores que, até então, não haviam sido mobilizados para o protesto, nomeadamente, muita gente de origem rural e trabalhadores de sectores não estratégicos.

Por outro lado, em várias zonas da manifestação, as pessoas aderiam com combatividade à palavra de ordem pela Greve Geral.

Uma e outra circunstância – num momento em que dentro do próprio movimento sindical, se manifestam posições “moderadas” que, tendo como argumento a “crise”, incitam os trabalhadores ao “bom senso” – revelam que a contestação ao governo, às suas políticas e ao PEC de miséria, alargaram o seu campo e que são cada vez mais os sectores [mesmo os menos esclarecidos] da sociedade portuguesa que radicalizam posições e manifestam disponibilidade para novas formas de luta.

Nesse sentido, a manifestação de ontem constitui um golpe de força e combatividade contra o governo de direita, mas também um desafio à velha burocracia sindical que se viu impotente para conter palavras de ordem mais “ousadas” e se esfalfou por colocar na cauda do desfile a semente mais insubmissa dos manifestantes – não fora o a coisa pegar-se e deitar por terra os planos do costume e a táctica previamente definida nos gabinetes dos controleiros…

Uma “esquerda bem comportada”

Em vários momentos, de forma repugnante e inqualificável, agentes do serviço de ordem da central sindical forçavam grupos de manifestantes para a cauda do desfile, de que foram exemplos mais caricatos a tentativa de afastar Garcia Pereira e seus camaradas, bem como o cordão “policial/sindical” que impediu jovens anarquistas de se integrarem na manifestação.

E até o Bloco de Esquerda colocou, entre o sector mais oficial do partido e o grupo Ruptura/FER [seu integrante], um carro de som para que o incitamento à Greve Geral não fosse entendido como posição oficial…

Estas esquerdas bem comportadas, alapadas na comodidade das tribunas parlamentares [percebe-se], reproduzem os mesmos tiques, a mesma arrogância e as mesmas práticas autoritárias que já provaram só levar à derrota e abrir caminha à direita e aos seus governos. E de que é exemplo a “aprovação” de uma proposta de moção que não foi votada por o burocrata de serviço achar “não ser necessário”, por estar à partida aprovada por unanimidade…

*Editor, membro da Comissão Directiva


Foto: NE

2 comentários:

João Pedro Freire disse...

Coloquei este vosso texto em Tribuna Socialista http://militantesocialista.blogspot.com

NOVA ESQUERDA - Movimento para uma Nova Sociedade disse...

E fez muito bem.
Já agora, não quer escrever um texto para o nosso blogue?
(e-mail: bloguenovaesquerda@gmail.com)

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