domingo, 13 de junho de 2010

Estratégia de recuo

A situação estratégica portuguesa não aparece favorável, na sua configuração actual. Por isso as atenções de vários quadrantes geralmente divergentes se voltam outra vez para o Brasil, mas agora como potência dirigente a quem possamos servir.
A configuração actual não é boa e não só se espera a qualquer momento as formas através das quais se concretizarão as maiores dificuldades políticas e económicas como não há esperança de melhorias, tanto quanto as previsões possam alcançar.
A desertificação do país é um risco apontado pelos especialistas do clima, da demografia e da crítica. Geografia, populações e mentalidades em uníssono parecem confirmar uma desgraça de grandes dimensões, mesmo sem a crise económica – que é a primeira – e financeira – que é mais reconhecida.
Pode pensar-se como o George W. Bush, que é como quem diz não pensar: dizer que devemos continuar a fazer o que sempre fizémos e ignorar previsões catastróficas por estas serem imorais e desmoralizadoras. Diria que esse é actualmente o pensamento dominante em Portugal, inspirado no bloco central dos interesses local e também na influência da classe política triunfante que vingou no ocidente como resultado do êxito das políticas conhecidas como neo-liberais. É certo que há quem queira abrandar o investimento do Estado – por exemplo, nas grandes obras públicas – mas não é para fazer diferente daqui para a frente. Querem fazer exactamente o mesmo, mas como se fosse tudo privado, abandonando o público à sua sorte.
Mas pode também pensar-se que o fracasso do capitalismo com regulação mínima (e cumplice) está a pedir mais intervenção pública, mais democracia, aquilo que o Estado não quis proporcionar nas últimas décadas e que cada vez mais mostra não querer nem estar em condições de proporcionar no futuro. A existência de inúmeros programas de regulação em muitas das principais áreas de actividade social e económica mostra que eles só não foram eficazes porque a iniciativa privada se lhes pode opôr subordinando o Estado às suas próprias vontades (irrealistas) tendo-nos feito chegar ao estado em que estamos.
Os Estados ocidentais organizaram a globalização, como forma de ultrapassar os constrangimentos laborais impostos pela regulação social própria dos Estados Providência à arrecadação de lucros. Foram explorar lá fora o que não conseguiam explorar cá dentro. Isso permitiu, uma vez desenvolvido com sucesso o esquema infraestrutural apropriado (de que a rede financeira que permite deslocar instantaneamente o capital e produzir moeda especulativa ad-hoc é uma parte), retornar aos territórios do centro do capitalismo e pressionar os salários até uma equalização global, em nome da competitividade. Na verdade o que ocorre é o esvaziamento não apenas moral mas também económico e financeiro do centro do capitalismo, em vias de ser substituído por novas paragens geográficas, a Oriente e a Sul.
Terá aspectos benéficos, esta redistribuição do poder e da riqueza no mundo. Porém, o modelo de desenvolvimento que estamos a considerar continua a ser o capitalismo puro e duro, medido pelo PIB, com desconsideração quer da pegada ecológica, quer do rendimentos disponível das famílias, quer do desenvolvimento humano. A China, a Índia, a Rússia ou o Brasil competem pela felicidade dos respectivos povos do mesmo modo que os países ainda do centro do capitalismo o fizeram, para agora nos dizerem serem incapazes de manter as promessas de bem-estar e protecção contra os fados tradicionais, fome, doenças, isolamento e maus tratos sociais. Com a agravante de após a experiência industrial estarmos com problemas ecológicos produzidos pela actividade humana desconhecidos anteriormente.
O envelhecimento da população no centro do capitalismo marca uma falta de potencialidade de inovação e de reconversão socio-económica e mental que torna praticamente inevitável o declíneo, seja por via da desindustralização, seja por via da competitividade, seja por via das dissidências internas que já aparecem à luz do dia, na sequência das miseráveis políticas de segurança de inspiração xenófoba que nos têm dominado (bem assim como os nossos parceiros do Norte de África) ao arrepio das melhores tradições dos Direitos Humanos, seja ainda por via da guerra de gerações entre aqueles que têm direito a reformas e aqueles outros que não terão esse direito mas são quem paga.
A velha esquerda foi pensada como uma forma humana de pensar o desenvolvimento, quando este estava em curso tendo por motor o capitalismo de primeiras vagas. A esquerda de hoje, com o desenvolvimento às arrecuas e com problemas estruturais que afectam o meio ambiente e as condições sociais de existência, têm condições de propor aos portugueses – e através deles aos europeus, aos brasileiros e a todo o mundo – um modelo de desenvolvimento capaz de lutar pela perservação do meio ambiente através de uma reorganização social e económica intensiva em força de trabalho, capaz de tornar indispensáveis e solidários todos os seres humanos, em nome da igualdade e da liberdade?

António Pedro Dores

Sem comentários:

Mudar de políticas? Depende de nós! - Rede de auto-ajuda política

A NOVA ESQUERDA - Movimento para uma Nova Sociedade quer corresponder às necessidades políticas do país e, ao mesmo tempo, ultrapassar as necessidades políticas do país. Isso não se fará de imediato nem através de um golpe de génio. Far-se-á pelo respeito que possamos promover por nós próprios e por aqueles que se disponham a trabalhar connosco.

Não vamos alimentar discussões estéreis e rivalidades pessoais. Vamos, isso sim, recrutar grupos de pessoas que se interessam pela política para que, juntas, possam desenvolver um espaço de criação e afirmação de ideais e de actividades políticas a propor ao país.

A organização descentralizada faz-se por núcleos NE-MNS, que têm um nome - por exemplo, “prisões sem guardas” (que é uma coisa que já existe noutros países) – um responsável para contactos de outros núcleos, da Comissão Directiva ou de outras entidades, e preferencialmente um blog ou outro modo de se dar ao diálogo e a conhecer a quem esteja interessado no assunto.

A NE-MNS dispõe deste blog para servir de plataforma de inter-conhecimento sobre os núcleos, onde estarão listados os núcleos existentes, com os nomes dos respectivos responsáveis (e contactos; caso o desejem) e uma ligação ao espaço próprio onde divulgam as suas discussões e actividades.

Para este blog devem os núcleos canalizar as suas propostas de acção (abaixo-assinado, refeição convívio, manifestação, tomada de posição, etc.) ou as suas actividades de debate. Da solidariedade dos núcleos uns com os outros dependerá o potencial de sucesso das iniciativas de todos e de cada um.

Mas o blog é, de igual modo, espaço para a livre expressão de opiniões e perspectivas pessoais, de contributos necessários à construção e afirmação de uma NOVA ESQUERDA e de novas práticas políticas.

Vamos dar expressão aos nossos desejos, porque ninguém o fará por nós!

Para nos contactar ou enviar sugestões utilize o e-mail bloguenovaesquerda@gmail.com

Arquivo do blogue

Acerca da NOVA ESQUERDA - Movimento para uma Nova Sociedade